Há alguns minutos li numa dessas mensagens compartilháveis do Facebook a seguinte frase: “usar bolsa Louis Vuitton no ponto de ônibus não combina“. Fui dominada por uma raiva tão grande que tive que vir despejar aqui em forma de texto.
Não me conformo em ter que viver num país onde muitas pessoas ainda tenha uma mentalidade tão limitada como essa! É a antiga sociedade de castas, do eu tenho você não tem, do eu posso você não pode. Em primeiro lugar, é ridícula a ideia de que alguém é melhor só porque usa um produto de uma marca X ou Y. Mas nem é isso que me incomoda tanto. É o fato de alguém ainda atribuir que usar bolsa Louis Vuitton é coisa de rico e andar de ônibus é coisa de pobre (e ainda achar isso bonito).
“Queridinha”, coisa de rico é ter escolha! É poder decidir se quer ir de carro, de metrô ou de ônibus, pois todas são opções seguras e plausíveis, como acontece nos tais países chamados de desenvolvidos. É não ser obrigada a se esconder no blindado porque tem medo de morrer se sair com suas coisas na rua. Riqueza seria ter metrô de fácil acesso chegando a todos cantos da cidade e ônibus passando aos montes, num trânsito que flui. Riqueza seria desfilar com seu óculos Miu Miu no ponto de ônibus sim, porque você mora num país onde todo mundo que trabalha, seja lá em qual cargo, recebe salário justo e tem condições de comprar o que bem entender (alguns mais e outros menos, mas nada é completamente inacessível para ninguém). Infelizmente, tudo isso tão distante da nossa realidade, onde o básico falta a maioria da população.
Ah! Inversamente, riqueza também é usar a bolsa C&A no restaurante luxuoso, sem medo do que vão dizer, simplesmente porque você gostou e se sentiu bem com ela. E é poder entrar na loja “de grife” sem ser medido das cabeças aos pés.
Muitas pessoas com um poder aquisitivo considerável têm mania de se considerar alheios ao povo e acreditam que não devem nem precisar dividir o espaço com este “tipo” de pessoa. E o pior: se orgulham disso! Agora me diga, como querem viver em um país melhor quando há um desejo mórbido de que a maior parte da população fique na pior, só para se sentirem privilegiados? Enquanto as pessoas se vangloriarem de poder “se safar” de estar no transporte público, ao invés de ficarem triste por não se sentirem seguros para usufruir, nada terá jeito. Mais lamentável ainda é não enxergarem este e outros serviços oferecidos pelo governo como seu próprio patrimônio. E perceberem que, ainda que nunca quisessem pisar num ponto do ônibus, também se beneficiariam se o serviço funcionasse com dignidade.
Como eu disse, riqueza é liberdade, riqueza é opção. Portanto, a próxima vez que nos depararmos com alguém usando uma LV no ponto de ônibus, ao invés de usarmos o preconceito para julgar que é falsificada, deveríamos botar a mão na consciência e aplaudir, pois pode muito bem ser alguém com maturidade suficiente para optar por utilizar o transporte público quando lhe foi mais propício, ao invés de botar mais um carro na rua, ocupando as vias já saturadas.
No mais, acreditar que usar bolsa da Louis Vuitton no ponto de ônibus não combina é a maior pobreza viu? Pelo menos, pobreza de pensamento.